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EXCERTO DO LIVRO "O sonho da nova escola"

  • pedropocas-nazunia
  • 20 de out. de 2020
  • 14 min de leitura




- Qual era o trabalho?

- Não “era”, eu ainda sou professora, apenas fui suspensa por um ano.

- O que é que aconteceu?

- Mandei com o telemóvel na cabeça de um aluno e teve que levar vários pontos; sangrou imenso.

- O que é que te levou a isso?

- Passei-me completamente. Eu avisei-a três vezes para parar de mexer no aparelho e ela fez orelhas moucas, continuou a gozar comigo e a provocar-me. Fui ao pé dela e disse-lhe para me dar o aparelho, como recusou tirei-lho à força... Então desatou aos gritos para eu lho devolver e tentou tirar-me das mãos. Às tantas embrulhamo-nos as duas numa confusão desgraçada com toda a turma histérica a adorar a situação. Enfim, foi um pandemónio autêntico que terminou com o maldito telemóvel a rachar-lhe a cabeça; e o pior de tudo é que a cena foi filmada por um colega que pôs o vídeo no “YouTube”para toda a gente ver... Depois também acabou por passar em grande destaque nos telejornais de todos os canais que foi para arruinar comigo de vez.

- Realmente!...É uma situação triste e insólita, mas também não é o fim do mundo. Vais poder dar aulas outra vez, não vais?

- Sim claro, mas só daqui a 5 meses...

- Então tenta aprender com essa experiência que te aconteceu, há sempre lições a tirar.

- Não vejo lição nenhuma. Cometi um erro e estou a pagar por ele; o que é que pode haver para aprender? Um professor não pode descontrolar-se dessa maneira e eu errei. A única consequência desse acto é que estou seriamente inclinada a desistir de ensinar.

- Porque? Não gostas de ser professora?

- Gostava Alexandre. Quando estudava e ambicionava dar aulas, imaginava que as coisas iriam ser de uma certa maneira: que iria ter os alunos interessados na matéria; que eles gostariam de mim e me respeitariam como professora. Quando acabei a universidade estava super entusiasmada para começar a leccionar e finalmente poder transmitir as matérias que tanto me empenhei nos estudos... Queria mesmo ter um grupo de alunos diante de mim que desejassem aprender tanto como eu desejava ensinar.

Entretanto avisaram-me que dar aulas do 5º e do 6º ano não era fácil, que era preciso ter uma grande dose de paciência para lidar com jovens imaturos e irrequietos que estavam nas idades mais problemáticas. Na altura não pensei nisso mas logo no primeiro ano apanhei duas turmas dos infernos que andavam ali só para dar cabo dos nervos aos professores, não prestavam atenção às aulas, só queriam brincadeira e fazer barulho. Depois quando eram chamados à atenção ainda gozavam.

Passei um ano miserável nessas condições. Muitas vezes só queria que chegasse o fim do dia para me livrar desse fardo. Andava sempre cansada e mal-humorada por causa dessas pestes que faziam das aulas um circo... Cheguei inclusive a chorar muitas vezes desanimada por ter chegado à conclusão que o meu sonho mágico de ser professora se tinha tornado um pesadelo na realidade. Acho que não tenho estofo para ensinar rebeldes.

- Pode ser que não, mas também pode ser que tenhas... sabes... Há muito para dizer sobre o Ensino mas deixa-me primeiro falar um pouco sobre o teu episódio do telemóvel; falaste que foi um erro. Entende uma coisa: esse é o modus operandi do Ego para simplificar as coisas e castigar as pessoas com pensamentos torturantes de auto-punição e culpa. É assim que funciona o sistema onde estamos inseridos, tu cometeste um erro porque fizeste uma acção má que foi agredir um aluno e agora estás a ser castigada ao teres sido suspensa. O mundo do Ego está assente neste princípio. Até aqui tudo bem, mas a questão é que estes métodos não contribuem para um mundo melhor... Os seres humanos não evoluem dessa forma e a consciência continua estagnada. É preciso ir mais fundo e compreender porque é que as coisas acontecem, questionar qual o motivo das crianças não quererem estudar – investigar as razões implícitas dessa rebeldia. Porque se formos a ver bem, os estados emocionais depressivos e os nervos alterados dos professores são no fundo, os meros sintomas de um «cancro invisível» chamado sistema de ensino egóico. Mas focando-me agora em ti: aos olhos do Espírito digo-te que tu não cometeste um erro em nenhum sentido, e por mais que discordes do que vou dizer, mesmo a agressão à aluna também não é um acto errado. Surpreendida?

- Um pouco. Dizes coisas estranhas... Mas continua, estou a seguir o teu raciocínio.

- Em primeiro lugar, a agressão é uma manifestação de energia que foi fabricada pela emoção da raiva. Se sentiste raiva geraste uma energia que se não tivesse sido expulsa, danificaria o teu organismo numa primeira instância... Logo, foi um alívio e uma reacção absolutamente normal. O problema está na atitude do Ego que só se interessa pelo aparato daquilo que é mediático e não vai estudar o processo emocional com sensatez. O Ego nunca recorre às leis do Espírito para remediar situações, rotula-as de “problemas” e recorre ao julgamento catalogando-as de bem ou de mal para punir ou absolver; é o Ego a requerer os serviços do Ego, e desse modo não há verdadeira evolução da consciência porque as emoções e a razão são os territórios de excelência do Ego, enquanto o Espírito – à parte – é o 3º elemento que não é conhecido.

O Espírito não apoia a agressão mas também não a condena, sabe que somos humanos condicionados pelo Ego e é tolerante e sábio o suficiente para compreender que todas as agressões que ocorrem no mundo têm origem no mesmo factor único – na falta de amor.

Então há que perceber aonde é que falta o amor. Analisando a tua situação particular, é óbvio que te faltou amor naquele dia para reagir com sabedoria. Só que faltou igualmente na tua aluna porque te desrespeitou e te ofendeu; a questão elementar é que todos os alunos que te hostilizam também eles necessitam de amor – um amor que provavelmente não receberam dos pais e muito menos num sistema de ensino que os agride sistematicamente. Isto portanto é um ciclo.

Faz sentido para ti?...

- É engraçado ouvir as coisas por esse lado... Parece que fico mais tranquila; mas continua que estou a gostar.

- Ainda bem... Agora em relação ao facto de achares que foi um erro – vamos esquecer para já a tua suspensão e a condenação social. Há aqui dois aspectos derivados do teu «erro»: um és tu, o outro é o mundo.

Em relação à tua pessoa primeiro: depois de teres saído da escola pensa bem no que aconteceu... Há uma mudança que surgiu na tua vida, mas raramente se vê com optimismo as mudanças. Mudaste de trabalho, vais experimentar novos ares ou simplesmente descansar daquilo que se estava a tornar um inferno – para usar as tuas palavras. Não há necessidade de ficarmos a lamentarmo-nos com os aspectos negativos da situação... Ou que nós consideramos negativos. Em tudo há o lado positivo e não é com os sentimentos de culpa e na crença em erros que vamos descobrir a imensidão dos aspectos positivos que advêm da mudança.

Na prática, o nosso foco tem que mudar de uma ideia de “erro mau imperdoável” para uma nova consideração de “situação de mudança benéfica”. E assim faz-se um jogo interessante de palavras: mudar interiormente para podermos vivenciar com alegria a mudança externa. Com efeito, tens um tempo para descansares, experimentares um novo trabalho; e nesse trabalho deparas-te com uma excelente oportunidade de aprenderes a lidar com os homens de outra forma...

- Mas essa questão dos homens foi um assunto que tu puxaste...

- Pois foi e também está relacionado com a tua suspensão.

- Não estou a perceber?

- Eu hoje estou aqui à tua frente a falar contigo só porque tu vieste trabalhar para aqui. Quer dizer que o teu «erro» permitiu que a gente se conhecesse.

-... Mais um aspecto positivo dessa mudança.

- Estás a ver. Por isso é que não faz sentido falar de erros. Aliás, no «dicionário espiritual» essa palavra nem existe sequer. Trata-se apenas de uma acção que tem consequências positivas se tiveres a mente bem direccionada para uma perspectiva optimista da realidade. Então é caso para repetirmos: é uma situação de mudança sempre benéfica.

- Interessante... E o mundo?

- O que é que tem o mundo?

- Disseste que o meu erro tinha relação com o mundo.

- Há claro!... Então, o facto de teres aparecido exposta na televisão e apesar de à primeira vista parecer algo negativo e humilhante, também tem outro lado positivo.

Eu não costumo ver televisão por isso não sei até que ponto essa situação foi projectada pelos mídia mas quando acontecem cenas com esse impacto há sempre questões que se levantam após o espectáculo e acredito que possa ter havido um conjunto de pessoas nas mais variadas áreas da sociedade, desde profissionais ligados ao Ensino, psicólogos, sociólogos, filósofos ou mesmo os próprios encarregados de educação, que peguem no teu exemplo para debater a fundo as lacunas que existem na sociedade e que tem repercussões nas escolas; estou a querer dizer que o teu erro pode ter sido uma bênção dos céus para alertar a sociedade que algo está errado no sistema de ensino. E daí dar origem a reuniões e debates com vista a proceder a alterações sérias na globalidade dessa instituição vital... Nunca pensaste que tu podes ter sido o motor que impulsionará uma reforma a larga escala?...No meu entender o mais relevante não foi o teatro da tua cena nem me interessa aquelas soluções imediatas de resolver o problema através do apuramento de responsabilidades – de saber quem é o culpado para aplicar a sentença. Julgo que há uma lição maior a tirar que se prende com a generalidade do sistema que está atravancado... Quer dizer, que está assente numa estrutura egóica que não consegue fazer com que os mecanismos fluam para que toda a gente se sinta feliz nas escolas; desde os alunos aos professores, todos precisam se sentir bem e todos necessitam de um clima harmonioso de paz e amor. E não é isso que temos nas escolas como podemos comprovar, com professores doentes e stressados por não aguentarem a pressão e os objectivos a que os obrigam a atingir, aliado à taxa crescente de insucesso escolar e o respectivo aumento do abandono antes do término do ensino obrigatório... Por isso é que o teu «erro» pode contribuir – a par de outras conjunturas mediáticas e os problemas inerentes ao próprio sistema – a que haja um despertar colectivo e uma nova consciência de que algo terá que ser feito para melhorar o sistema de ensino. Uma só pessoa pode ser o elo que faltava para desencadear uma corrente de energia que irá abalar o mundo. Não duvides disso.

- É possível que sim. Mas normalmente nós estamos mais concentrados no lado trágico que nos atingiu directamente e não é fácil separarmo-nos disso; é preciso um distanciamento para analisar a questão de uma perspectiva global e eu na altura só sentia tristeza e raiva de mim mesma por isso ter acontecido – porque tinha consciência de um erro que podia ter sido evitado se eu me tivesse controlado.

- Mas a mim dá-me impressão que após seis meses ainda não te distanciastes.

- Tens razão. Não é uma questão de tempo... É entender que há outra visão paralela. Mas diz-me uma coisa, o que é que uma pessoa naquela situação poderia ter feito de diferente? Deixava que os alunos continuassem a abusar de mim e a reprimir as emoções?

- Há sempre alternativas a ter que partir a cabeça de uma estudante com um telemóvel.

- Vá, não brinques…

- É claro que havia outras formas de lidar com isso mas não interessa agora arranjar outros cenários melhores para te martirizares mais.

- Não, podes dizer, a sério! Eu não me vou torturar mais. Até que nós cheguemos a uma escola de sonho é preciso primeiro aprender a lidar com as emoções em períodos conturbados. Como poderá mudar a escola se nós não mudarmos o nosso comportamento, não é?

- Tudo bem. Deixa-me pôr numa situação de stress em frente de uma turma de gozões onde uma aluna se recusa a parar de mexer no telemóvel... Bem, a verdade é que provavelmente teria feito o mesmo que tu; na flor das emoções sempre pode acontecer um colapso e haver uma agressão. Mas é claro que havia outras maneiras mais sensatas, podias por exemplo convidar a aluna a sair da aula.

- Isso é o que eles gostam que é para irem para a paródia.

- Sim mas ao menos não chegavas ao ponto de ebulição...

- Ok... E se ela se recusasse a sair?

- Paravas a aula enquanto ela não saísse ou ias falar com o director da escola.

- Isso não seria também uma atitude fraca onde ela se iria sentir importante?

- Talvez. Mas isso é um problema dela que não te diz respeito. O importante é que o elemento perturbador sai e tu podes prosseguir a aula com aqueles que estão interessados. Não querendo de longe criticar-te, a tua acção de te envolveres numa disputa verbal com a aluna... Como é que ela se chama?

- O que é que isso interessa?

- Muuito! É um ser humano que merece ser respeitado do mesmo modo que tu.

- Chama-se Paula...

- Para ser muito frontal, o que se passa aqui numa visão simplista é que a Sandra e a Paula entraram num confronto emocional. Juntaram energias semelhantes provenientes dos seus sentimentos de frustração de falta de amor e descarregaram-nas uma na outra sem dó e piedade. Não que haja qualquer compromisso pessoal entre as duas de especial relevância, mas ambas foram protagonistas de uma quezília mais abrangente que põe frente a frente a instituição Escola – com os seus métodos obsoletos – e a geração dos jovens que anseiam por energias novas e libertadoras... E se queres que te diga, apesar da importância desse duelo que é extremamente significativo para alterar consciências e acelerar mudanças como referi à pouco, a tua acção é simultaneamente a menos eficaz para lidar com os actos de rebeldia dos alunos. O que tu fizeste foi basicamente responder com agressão a um acto de agressão. A Paula ao agredir-te recusando desligar o telemóvel, é um acto de desobediência perante a Sandra que como professora representa um agente de autoridade. E como esta se sentiu desrespeitada e violentada na sua posição que considera mais digna, enfureceu-se e retribuiu com a mesma moeda. Sendo assim é lógico que a guerra aconteça e os intervenientes percam a oportunidade de oferecer um ao outro a dádiva preciosa do amor... Supostamente deveriam ser os professores, os mais adultos, aqueles com mais maturidade e alguma consciência para poder ensinar aos mais novos a verdadeira essência do amor. Mas por aquilo que se observa comummente, a diferença de idades não tem peso praticamente nenhum no que concerne à consciência. Vê-se claramente que tanto os professores como os alunos se servem dos mesmos atributos emocionais e racionais do Ego para conduzir as suas acções.

- Tudo bem, mas quando tu falas que a única solução é reagir com amor não consigo entender como isso é possível na prática... Ainda por mais, há pouco disseste que uma alternativa à minha acção seria expulsar a aluna da aula; isso não será também uma forma de agressão?

- Completamente sim, embora menos violenta que uma agressão física.

- Então onde é que está o amor?

- Atenção que eu não utilizei a palavra expulsão.

- Disseste o quê?

- Um convite.

- Um convite a quê?

- E disse que uma solução melhor seria convidares a Paula a sair.

- Desculpa lá mas isso é ridículo! É apenas uma forma educada de expulsar um aluno. Não me estou a imaginar a chegar ao pé da Paula, ainda por cima gozona como ela é, e dizer gentilmente: “Paula importas-te de abandonar a sala.” Ou “A menina quer ter a gentileza de sair para a rua.” Toda a turma zombaria de mim nesse momento... Aí é que eu perderia todo o respeito.

- Como é que sabes? Já alguma vez te dirigiste a um aluno nesses modos?

- Nunca.

- Então escuta-me com atenção agora: esse é o primeiro passo para a mudança. Ser respeitoso com quem nos ofende... Ser gentil com quem nos ataca... Ser amoroso para com aqueles que nos odeiam. Admito que não é fácil porque temos um pensamento viciado no Ego que nos diz que temos que ser rudes com os nossos adversários, que temos de os castigar pelos maus comportamentos. Não conseguimos simplesmente conceber que o amor é o único agente de uma verdadeira transformação; ainda temos muitos temores. Como tu própria referiste aliás: medo que gozem contigo e medo de seres desrespeitada. Assim preferimos os métodos arcaicos do Ego e encaramos a coisa como um duelo em que há uma honra a ser defendida. No entanto, há uma diferença substancial entre expulsar e pedir a alguém para sair. Quando “pedes” algo a outrem, estás a respeitar a pessoa. Estás a ser sensata e a reivindicar o teu poder correcto que sabe lidar com outro ser humano sem o ferir – logo, é o tratamento do teu semelhante, como alguém que é igual a ti, que faz de ti uma pessoa poderosa e sábia. Não o inverso. Expulsar alguém é realmente um sintoma do nosso Ego emocional que escolhe o uso do poder errado, o poder mundano que diz que um ser humano “ganha” ao achar-se superior ao outro, um poder mesquinho que se serve das leis hierárquicas para poder abusar da posição vantajosa com arrogância, agressividade e autoritarismo... É um facto que muitos professores expulsam os alunos, mas são raros aqueles que superam o hábito padronizado e conseguem compreender que a saída de um aluno de uma sala em curso representa o início de um processo. Eu explico melhor: o professor consciente que pede ao aluno rebelde para abandonar a sala fá-lo com compaixão e não com o desdém em que há um sentimento de dever cumprido por se ter aplicado um correctivo ao pecador. Aliás, o professor que transcende o Ego também fica magoado porque compreende que há um elemento da turma que precisa mais de amor do que aqueles que estão presentes. Fica triste e não feliz por se ter livrado de um estorvo.

Como estava a dizer, é o início de um processo rumo ao amor que contraria o fim em si da expulsão. A mente egóica tem preguiça de aprofundar e gosta de finalizar todos os problemas superficialmente, muito rapidamente... Porque no fundo tem receio do amor e sabe inclusive que quanto mais tempo passar sem actuar, vai perdendo a sua força para esse amor que existe na intemporalidade.

A situação é que quando optamos pelo caminho do amor, o aluno torna-se de certa forma parte do professor e este vai desejar aproximar-se dele assim que puder; significa que embora tenha sacrificado um elemento para poder prosseguir com a aula, isso foi apenas temporário. A intenção maior é dar-lhe a mão e tentar abrir o seu coração. Para isso ele sabe que vai ter de falar com ele a sós. E isso é tremendamente significativo. Não é conveniente falar com os alunos diante da turma porque se trata de uma plateia sedenta de espectáculo – especialmente se for drama. Quando há uma questão delicada a resolver entre um aluno e um professor convém ser num clima ameno e privado entre os dois, onde as energias primárias do Ego não intervenham... A propósito, qualquer assunto que tenha de ser transmitido, não só aos alunos mas também nas relações laborais entre patrões e empregados ou outro tipo de cenário qualquer, é primordial a serenidade de ânimos e lidar com os problemas exclusivamente entre os intervenientes. Se ponderarmos um pouco, veremos que sempre que os conflitos são expostos diante de plateias, há uma tendência para se ser mais agressivo e competitivo parecendo que temos de provar alguma coisa a todas as testemunhas que observam; na verdade somos influenciados pelas opiniões alheias e temos medo de ser julgados, por isso é que nos tornamos mais reactivos e os diálogos transformam-se em discussões. Portanto, reafirmo que é importantíssimo um diálogo privado.

- E tempo para esses diálogos privados?

- Isso é uma outra estória. Primeiro é preciso florescer uma nova consciência no professor que o faça desejar esse diálogo. O que acontece com frequência é que os professores operam com a mente do Ego e ficam satisfeitos temporariamente com a solução imediata de se verem livres dos elementos destabilizadores, nunca lhes ocorrendo que existe outro método para lidar com o problema; porque os anos vão passando e as iniciativas de expulsar os alunos nunca irão solucionar o problema. Cada vez há-de haver mais alunos rebeldes, mais expulsões, mais atritos entre professores e alunos, e provavelmente que mais situações do género da tua se repitam... Mas até quando é preciso que o sistema ande nesta loucura? Será que é necessário que surja um aluno e rebente com uma escola [como nos Estados Unidos] para as consciências despertarem?

- Espero bem que não.

- Uma simples troca de palavras carinhosa com um aluno pode transformar muita coisa. Dizes que não há tempo mas já pensaste que se o professor abdicar de 5 minutos do seu programa e dar um pouco de atenção ao seu aluno mais problemático, falando verdadeiramente com ele, pode evitar muitas dores de cabeça futuramente propiciando uma relação mais saudável dentro da sala de aula. Talvez por não haver disponibilidade é que os professores depois desperdiçam demasiadas horas a tentar discipliná-los sem sucesso; consegues ver isso?

- Mas não seria mais eficaz haver psicólogos a fazer esse trabalho?

- Poderia ser uma solução. Se houver profissionais nesse ramo que saibam compreender a origem da instabilidade emocional dos alunos e que não os façam sentir culpados. Se conseguirem estabelecer uma conexão entre as falhas da sociedade e o seu comportamento, integrando o elemento do amor numa base espiritual, acredito que possa ser benéfico sem dúvida... O pior é se esses psicólogos não tiverem capacidade de avaliar o problema como um todo, centrando-se unicamente na personalidade do aluno como um objecto de estudo em que se limitam a despejar conceitos teóricos desprovidos de profundidade – ou seja, matérias que assimilaram de outros psicólogos como se fossem verdades incontestáveis. A verdade é que cada ser humano, psicólogo ou não, tem a capacidade de entender o que é o amor. É algo natural e intrínseco que não vem na teoria dos cursos. Basta sentir.

Todavia, acho que os professores sendo os que mais contacto têm com os alunos, podem efectivamente fazer a diferença. Convivem diariamente com eles e conhecem de certeza com mais rigor as características e as dificuldades de cada um deles.

Mas vamos imaginar o seguinte...


CONTINUA...

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